- Passa essa estrela dourada aí, filho.
- Essa?
- É. Ficou bom aqui?
- Ficou. Ficou sim. Mas, ô pai...
- Hum?
- Essa árvore é de verdade?
- É claro que é. Você não está aí, pegando nela? Então é de verdade.
- Não é isso, pai.
- O que é então?
- Eu estou perguntando se ela é de verdade mesmo, dessas de plantar.
- E para quê você quer saber uma coisa dessas?
- Pra saber, ué.
- Tá bom. Ela não é de verdade. Passa essa bola vermelha aí.
- O quê?
- Essa bola aí, do seu lado. Passa pra mim.
- Ah, tá.
- Você acha que a bola fica bem aqui?
- Fica. Fica sim. Ô pai...
- Hum?
- Porque é que a gente tem que colocar árvore no Natal?
- Por quê? Oras, por que... por que sim. Para enfeitar.
- Enfeitar o quê?
- A casa. Todo mundo enfeita a casa no Natal.
- E enfeita com árvore por quê?
- É porque a árvore é... é... é uma lenda antiga, filho.
- E como é que é a lenda?
- A lenda? Bem. É uma lenda comprida, quer mesmo saber?
- Quero.
- Hum, bem, é que antigamente, tinha...hum... uma árvore que...hum... dava
presentes!
- Dava?
- É. Os presentes nasciam nela, sabe? Que nem fruta. E a época dela de dar
frutas era justamente na época do Natal. Nascia de tudo. Videogame.
Computador. Celular. Mp3. De tudo mesmo. E aí era só as pessoas irem lá e
pegarem os presentes. Ninguém precisava pagar nada. E então... então...
- Então o quê?
- Então... bem, então os donos das lojas começaram a ficar bravos porque
ninguém mais comprava presentes e eles não ganhavam dinheiro. E então...
então eles resolveram cortar todas as Árvores de Natal do mundo!
- Nossa...
- Uma noite, os donos das lojas, vestidos de vermelho e usando uma barba
branca falsa para disfarçar, saíram cortando todas as árvores, usando a
serra que eles levavam num saco. Não sobrou nenhuma! E desde aquele dia, a
gente tem que pagar caro pelos presentes de Natal...
- Os donos da loja... De vermelho? Com um saco? E barba branca?
- É... isso mesmo e... e... me passa esse sininho aí.
- O quê?
- Esse sino prateado. Pega aí. Pra pendurar na árvore!
- Ah, tá... - disse o filho, olhando desconfiado.
(Artur de Carvalho)
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