(retirado de "a casa da arvore" - Maira Viana)
Parace que foi ontem. Arrumei as malas e desapareci. Deixando trás todas as pessoas do mundo. As chatas, as acéfalas e também as tediosas. Pois todas elas escondiam espinhos em suas falas, em seus olhares e em seus gestos. E nunca fui boa em desviar de farpas, quiça espinhos. Arrumei as malas e desapareci. A casa da árvore, então, me acolheu. Figura onírica de minha infância, era a casa. Do alto dela, eu imaginava a preocupação de todos ao darem por meu sumiço. Mas, com o passar do tempo, calculei que se acostumariam com minha ausência. A tudo se acostuma. E, pendurada nesta casa, guardei meus slêncios, meus escritos, minhas dores e meus documentos. Fiz do quarto esconderijo para minha esquisitisse, minhas calcinhas e meus sonhos. E ninguem precisa saber das luzes da minha casa. Quando acendo, quando apago e quando as faço piscar. Ninguem precisa saber da minha demencia, da minha falta de tato, das minhas insonias e das minhas compulsões. Realmente ninguem precisa. E nenhuma outra casa, assim como nenhuma outra árvore, me acolherá da mesma forma que esta me acolhe. Porque esta é minha e me cabe como nenhuma outra jamais me coube. Com o passar do tempo me acostumei a vivers sozinha. A tudo se acostuma. E do alto desta casa muita coisa se fez clara. E durante tantos anos, observando as mais variadas flores do mundo, do canto da minha janela, percebi que todas elas traziam consigo alguns espinhos. E nunca fui boa em desviar de farpas, quiça espinhos. Mas, com o passar do tempo, me acostumei a conviver com eles. Foi então que entendi que flores e pessoas podem ter muita coisa em comum. E que a tudo pode-se acostumar. Bastar, com o passar do tempo, aprender a lidar. Parace que foi ontem. Arrumei as malas e desapareci. Deixando pra trás todas as pessoas do mundo. As adoráveis, as dedicadas e também as carismáticas. Eu apenas não sabia que poderia, com o passar do tempo, me acostumar a lidar com todas elas.
A Terra girava, mas o lugar onde o fio estava ancorado era o único ponto fixo do universo. Por isso não era propriamente à Terra que o meu olhar se dirigia, mas ao alto, lá onde se celebrava o mistério da imobilidade absoluta.
E se você dormisse?
E se você sonhasse?
E se, em seu sonho, você fosse ao Paraíso e lá colhesse uma flor bela e estranha?
E se, ao despertar, vocêtivesse a flor entre as mãos?
Ah, e então?
(Coleridge)
quinta-feira, 19 de março de 2009
Observando as mais variadas flores do mundo...
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Um comentário:
Nem eu
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